1. Introdução
1.1 O que é AESS?
O Aço Estrutural Exposto Arquitetonicamente (AESS – Architecturally Exposed Structural Steel) vai muito além de suportar cargas — ele celebra a estrutura como elemento artístico e funcional. Nas palavras do Australian Steel Institute (ASI), o AESS combina “arte, ciência e know-how” para destacar a integridade estrutural como parte da expressão arquitetônica
Por isso, diferentemente da estrutura de aço convencional (oculta por revestimentos), o AESS exige níveis superiores de forma, encaixe e acabamento, dedicando atenção não apenas ao dimensionamento da ligação, mas estudando os detalhes do projeto à montagem, passando pela fabricação e os revestimentos.
1.2 Por que o AESS importa para todos os envolvidos?
Para o arquiteto:
- Concretiza a visão arquitetônica em uma estrutura que é ao mesmo tempo visível e funcional — transformando cada ligação, cada viga, num elemento de design.
- Requer comunicação clara e específica desde as primeiras fases, para evitar surpresas estéticas durante a obra.
Para o engenheiro:
- Faz parte de um processo colaborativo, não linear. As decisões sobre dimensionamento, ligações, tolerâncias e acabamento impactam diretamente no visual — e precisam ser compatibilizadas com critérios estruturais e econômicos.
- O engenheiro deve definir requisitos técnicos que atendam ao design pretendido, como tolerâncias reduzidas, métodos de conexão mais refinados, e processos de acabamento diferenciados.
Para o fabricante:
- Entra em cena o Código de Prática AESS da ASI, onde estão listadas exigências claras de tolerâncias, acabamentos, fabricação e montagem — muito acima do padrão da estrutura de aço oculta ou do padrão industrial.
- Cuidados críticos incluem restrições mais rígidas em relação ao alinhamento de perfis e de suas chapas, acabamento de soldas, tratamento de superfícies e manipulação/metodologia de içamento para manter a qualidade visual até a montagem final.
1.3 A tríade da comunicação colaborativa
O ASI destaca que o sucesso de uma estrutura AESS depende muito mais da qualidade da comunicação entre arquiteto, engenheiro e fabricante do que puramente de técnicas e decisões isoladas (steel.org.au). Essa colaboração se baseia em:
- Engajamento precoce: reuniões presenciais, revisões de amostras e mock-ups em fábrica são fundamentais para alinhar expectativas.
- Especificação clara no escopo: os desenhos e documentos contratuais devem indicar explicitamente as áreas AESS, o nível exigido (AESS 1 a 4 ou não-AESS), e os critérios de substituições aceitáveis.
1.4 Categorias do AISC
O AISC também tem um sistema de categorias AESS abrange cinco níveis:
- AESS 1: Elementos básicos
- AESS 2: Elementos de destaque, não vistos de perto
- AESS 3: Elementos de destaque em visão próxima
- AESS 4: Elementos de alto acabamento (SHOWCASE)
- AESS C: Elementos customizados além das categorias padrões
Entretanto, este artigo levará em consideração as categorias da norma australiana.
2. Categorias AESS segundo o ASI: domínio técnico para arquiteto, engenheiro e fabricante
As categorias AESS (Aço Estrutural Exposto Arquitetonicamente) servem de guia para ajudar arquitetos e engenheiros a definir o nível de acabamento e a expectativa para a estrutura de aço aparente. É uma maneira de traduzir a intenção estética do arquiteto para os requisitos técnicos do fabricante e do montador. A especificação correta evita surpresas na obra e garante que todos os envolvidos estejam na mesma página.
O ASI organiza o AESS em quatro categorias padronizadas (AESS 1 a AESS 4), além da opção de construção não AESS (SSS – Standard Structural Steel). Cada categoria define requisitos específicos de acabamento, tolerâncias de fabricação, tratamentos de superfície e montagem. A seguir, exemplifica-se cada categoria e suas implicações para os profissionais envolvidos.
2.1 Visão geral das categorias (segundo ASI)
De forma resumida, a matriz AESS do ASI estabelece os critérios centrais de acabamento conforme a visibilidade do elemento:
- Construção não AESS – (SSS – STANDARD STRUCTURAL STEEL): é a estrutura de aço comum utilizada em construções, que cumprem os requisitos normativos, mas que não tem características especiais para fins estéticos.
- AESS 1 – Elementos básicos: este é o nível mais simples. Destinado a partes que têm acabamento funcional sem ênfase estética. As soldas são feitas para garantir a função estrutural, sem preocupação com a estética (projeções até 2 mm toleradas), marcas de laminação permitidas. Pequenas imperfeições da usinagem e da solda são aceitáveis. Em geral esta categoria é usada para estruturas que serão vistas de uma distância superior a 10 metros. Em elementos tubulares a costura conservada como fabricada.
- AESS 2 – Elementos de destaque a distância (>6 m): aqui, o acabamento começa a importar. A superfície deve ser mais uniforme e as soldas, mais limpas (projeções até 2 mm toleradas). Esta categoria é alcançada principalmente por meio da geometria sem trabalho acabado, usada para estruturas que serão vistas de uma distância maior, de 6 a 10 metros, como pilares em uma fachada ou vigas de um mezanino. Excede os requisitos básicos, mas a intenção é permitir que o espectador veja a arte da metalurgia. A tolerância de empeno (camber/sweep) é reduzida à metade do permitido em normas estruturais, exigência importante para precisão visual e encaixe. Em elementos tubulares a costura conservada como fabricada.
- AESS 3 – Elementos em distância média (≤6 m): usada para estruturas que serão vistas de perto, a uma distância de até 6 metros ou que estão sujeitas ao toque do observador. Excede os requisitos básicos, mas a intenção é permitir que o espectador veja a arte da metalurgia. As soldas precisam ser suavizadas (projeções até 2 mm toleradas), as imperfeições da superfície são mínimas e as conexões devem ter um visual mais limpo e organizado. A atenção aos detalhes é alta, juntas com precisão e marcas visuais mínimas. Envolve o uso de um mock-up, e a aceitação é baseada nas condições aprovadas do mock-up. A tolerância de empeno (camber/sweep) é reduzida à metade do permitido em normas estruturais, exigência importante para precisão visual e encaixe. Os elementos visuais devem ter juntas uniformes ou contato contínuo, eliminando folgas e ressaltos indesejáveis. Em tubos a costura deve ser posicionada do “lado menos visível” conforme desenho apresentado pelo arquiteto.
- AESS 4 – Alto acabamento / Showcase: este é o nível de maior exigência. É usado para elementos que serão apreciados de perto ou que são o ponto focal do projeto, como uma escada escultural, um grande vão em uma recepção ou elementos decorativos. As soldas são esmerilhadas e polidas (solda nivelada e imperceptível), juntas contornadas, imperfeições eliminadas, os parafusos podem ser embutidos e cada detalhe é tratado como uma joia. O AESS 4 é indicado quando o designer pretende que a forma seja o único recurso exibido em um elemento. Envolve o uso de um mock-up, e a aceitação é baseada nas condições aprovadas do mock-up. A tolerância de empeno (camber/sweep) é reduzida à metade do permitido em normas estruturais, exigência importante para precisão visual e encaixe. Os elementos visuais devem ter juntas uniformes ou contato contínuo, eliminando folgas e ressaltos indesejáveis. Em tubos a costura é tratada para ser não aparente, muitas vezes requer lixamento e preenchimento visual.
Fonte das imagens: https://parallax.aisc.org/AC-AESS.aspx
2.2 Outras informações importantes
Preparação para pintura: todos os elementos AESS devem ser submetidos ao jateamento Sa2.
Só é possível observar uma categoria AESS específica no lado de um membro exposto que esteja visível. Para definir adequadamente a categoria AESS, considere: distância de visualização, uso do elemento (estrutural ou expositivo), iluminação: tinta brilhante revela falhas, ambiente: interiores exigem mais cuidado em acabamento; exteriores demandam proteção e durabilidade.
Iluminação. Quando os elementos são muito iluminados, eles podem expor mais textura e manchas na superfície. Fonte da imagem: https://parallax.aisc.org/AC-AESS.aspx
No transporte e montagem a manipulação deve ser cuidadosa usando alças com cintas de nylon e proteção de bordas). Na montagem, o refino de soldas provisórias, a eliminação de barras de apoio e a uniformidade nos parafusos e conexões alinhadas é visualmente excencial.
A colocação do AESS no interior ou exterior tem um impacto significativo no tipo de revestimentos e proteções selecionados para o membro, além de como ele é detalhado. Fonte da imagem: https://parallax.aisc.org/AC-AESS.aspx
2.3 Implicações práticas por disciplina
Aspectos relevantes do Arquiteto: definirá as áreas AESS e sua categoria no desenho (uma mesma estrutura pode ter várias categorias AESS definidas pelo profissional, em função de sua distância de visualização, iluminação e se houver partes ocultas. Quanto maior a categoria AESS, maior o preço da fabricação e da montagem. É primordial orientar visualmente as tolerâncias e acabamentos, além de ser o ator principal na validação por mock-up.
O Engenheiro transformará as exigências estéticas em tolerâncias e detalhes técnicos. Definirá os aspectos estruturais compatíveis com os acabamentos exigidos.
O Fabricante executará segundo critérios precisos e devidamente contratados: alinhamento, soldagem, acabamento, preparação e entrega visualmente impecável.
O mock-up (protótipo real) é essencial em AESS 3 e 4 para validação visual antes da produção em série. Ele alinha expectativas visuais entre todos os envolvidos. Mock-ups são essenciais para validar a qualidade antes da produção em série
Além disso, nas notas padrão de desenho segundo o ASI, deve haver identificação clara das áreas AESS e orientação para conexões sensíveis, escolha de soldas e sistemas de pintura.
Superfícies limpas e nós bem trabalhados evocando níveis elevados de acabamento. Fonte da imagem: https://www.waltersgroupinc.com/aess-basics/
3. Considerações Finais
Integrar o AESS desde os esboços iniciais alinha estética e praticidade, evita retrabalhos e fortalece o controle orçamentário. Para engenheiros e arquitetos, dominar esse sistema oferece uma vantagem técnica e estética — é o caminho para traduzir a elegância estruturada em obra real.
Eu sou Alexandre Vasconcellos, engenheiro civil especialista em estruturas de aço pela USP, engenheiro de produção, mestre em estruturas pela Unicamp, MBA em gestão empresarial pela FIA, especialista em modelagem pela Universidade de Michigan, empreendedorismo pela Universidade de Maryland e estratégia pela Darden School. Executivo da construção com mais de 40 anos de experiência, ajudo pequenos e médios fabricantes de estruturas metálicas a aumentar sua eficiência e seus lucros.
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